miércoles, 14 de noviembre de 2012

A Esquerda que não se Reconhece na Esquerda

Recente estudo divulgado pelo Banco Mundial, de outubro de 2012, aponta para o inquestionável declínio da desigualdade na América Latina no período de 2000 a 2010. Em grande medida, apesar das distintas orientações políticas entre os países, no caso do Brasil as causas deste fenômeno são atribuídas ao crescimento persistente do PIB e à queda da pobreza, indicadores que estão intimamente ligados às políticas de transferência de renda, aos ganhos reais do salário mínimo e às melhorias na educação e no mercado de trabalho. Depois de duas décadas ostentando os piores indicadores sócio-econômicos se não do mundo, certamente da América Latina, o Brasil inaugura o novo século com grandes conquistas para sua população, reconhecimento e respeito internacionais. As conquistas estão no âmbito econômico, social, ambiental e regional. Esta guinada não se deu de graça. A ruptura com as perversas orientações neoliberais, o olhar atento e respeitoso às necessidades e demandas da população brasileira, a certeza de que a nossa auto-estima tinha urgência de ser resgatada ditou o novo rumo a ser tomado. O reconhecimento destas conquistas nos remete aos riscos implícitos à sua implementação. Mudar a lógica da acumulação brasileira, romper com os mandos do pensamento único, limitar os ganhos financeiros em detrimento dos ganhos sociais foi uma briga não transmitida pelos meios de comunicação, ao menos, não integralmente.

O Partido e os políticos que ousaram importunar as classes dominantes, que tiraram milhões de pessoas da pobreza, que possibilitaram a compra da casa própria e que cercearam os ganhos com especulação financeira têm pago um preço alto por tamanha ousadia. Ingênuo seria acreditarmos que tudo isso ocorreria com naturalidade e serenidade, e que a burguesia brasileira abriria mão de seus privilégios simplesmente por entender que essa era a atitude mais justa. Besteira! Ingenuidade juvenil, imaturidade política! Essas mudanças custaram a liberdade dos dirigentes do Partido, justamente daqueles que dedicaram suas vidas à um Brasil mais justo, mais democrático e mais igualitário.

Os meios de comunicação fazem a vez da oposição que há muito está ausente no debate político, ausente porque sem propostas, sem projetos, sem afinidades com o povo deste país. Os mesmos meios de comunicação que transmitiram o julgamento da AP 470 como uma novela ou um seriado americano, ganhando duplamente, na audiência e na formação de opinião das massas. Transmissão complementada por comentários e “análises” tendenciosas, presentes nos telejornais, nas matérias da mídia escrita e até por similitudes nas cenas novelescas. Algo muito grande está em jogo, se assim não fosse, não se perderia tanto dinheiro veiculando tais cenas, afinal, como diz Pierre Bourdieu sobre a televisão, se minutos tão preciosos são empregados dessa forma, é porque este tema deve ser muito precioso.

Este é o nosso papel, o de olhar este processo com olhos críticos, audazes, e não com olhos de quem assiste novela.

* Texto elaborado a partir da provocação construtiva de colegas do IBGE.

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